Pedro Amaral (1972)

Anamorphoses (1998)

pour orchestre

  • Informations générales
    • Date de composition : 1998
    • Durée : 9 mn
    • Éditeur : Inédit
Effectif détaillé
  • 2 flûtes, 3 hautbois, 1 clarinette, 2 bassons, 2 cors, 2 trompettes, 3 trombones, 3 percussionnistes, 2 harpes, 1 piano, 1 clavecin (aussi 1 célesta), 3 violons [ou 6] , 2 altos [ou 4] , 3 violoncelles [ou 6] , 1 contrebasse [ou 3]

Information sur la création

  • Lieu :

    Conservatoire National Supérieur de Musique de Paris


    Interprètes :

    Orchestre du Conservatoire, direction : Renato Rivolta.

Note de programme

De raízes gregas, a palavra descreve, como é sabido, a deformação de uma imagem em virtude do seu reflexo num sistema óptico não rectiforme.

Ao longo de toda a história da música, os compositores têm sido confrontados com o problema da reaparição dos mesmo objectos sonoros ao longo de uma mesma obra. Soluções diversas emergem, mais ou menos ciclicamente, elegendo uma maior ou menor facilidade de reconhecimento, à audição, desses objectos-chave. Por vezes, como em certas fugas de Bach, as concepções cruzam-se, e um tema, cujas imagens se mantiveram imutáveis, transpondo-se de voz para voz, de tonalidade para tonalidade, sofre subitamente uma modificação: os intervalos invertem-se, o carácter altera-se, a percepção modifica-se radicalmente. É precisamente um exemplo, ainda que relativamente simples, de anamorfose . Outras vezes, como em alguns ciclos de variações de Beethoven, os objectos tornam-se, pouco a pouco, tão profundamente desenvolvidos, numa alquimia incessante, que quando chegamos ao fim não encontramos já qualquer relação directamente audível com aquilo que nos tinha sido dado como ponto de partida.

Em certo sentido, esta pequena obra é uma exposição contínua dos mesmo objectos , cruzada por um cortejo de variações em permanente transformação, fazendo suceder estados diversos da mesma matéria. Cada grupo, no interior da orquestra, desenvolve uma matéria própria, que se projecta, em seguida, como numa estranha e mágica sala de espelhos, das mais diversas maneiras, sob as mais diversas aparências, sofrendo, em suma, os mais diversos graus de anamorfose .
Devem essas transformações ser imediatamente perceptíveis e re conhecíveis? Depende da maior ou menor capacidade técnica e precisão dos intérpretes relativamente à interpretação do texto e, sem dúvida, da maior ou menor perspicácia dos ouvintes. Algumas estão de tal forma dissimuladas que apenas uma pluralidade de audições, uma memória morosamente nutrida através de um contacto repetido com a obra, poderia clarificar. Outras, pela sua evidência, podem talvez ser descobertas numa primeira abordagem.

Tendo já sido interpretada por diversas orquestras e maestros (entre os quais Renato Rivolta, Mark Foster, Michael Zilm, Muhai Tang) Anamorphoses constitui, simultaneamente, uma encomenda do Festival Internacional de Música de Macau e a minha peça de final de curso no Conservatório Superior de Paris, com a qual obtive o Primeiro Prémio por unanimidade do júri .

Pedro Amaral.